Tenho que vos contar uma história! Não que ela seja
agradável de se ouvir, ou que eu tenha orgulho nela, mas cheguei à conclusão
que mantê-la em segredo não vai ajudar ninguém. E sim, sendo eu uma pessoa
desconfiada, tenho até vergonha que tal situação me tenha acontecido. Mas bom…
isso só prova o quanto eu fui muito bem enganada!
Há uns tempos atrás, fui abordada por um amigo
virtual, que já seria amigo há bastante tempo. (Amigos daqueles que não
conhecemos, mas que andam por aqui, e não deviam… Bom, adiante…) Terá estado
numa mesma festa que eu, e resolveu vir dizer-me isso mesmo, por msg, no facebook. E sim, eu até tinha a sensação
de ter visto aquela pessoa ou muito parecido nessa mesma festa, e a pessoa que
estava comigo (que por acaso era a minha mãe) também.
Pelo que sei agora, isso terá sido apenas um pretexto
muito bem elaborado para se começar um grande filme…
Esse amigo, ao que me pareceu de início, precisava de
alguém a quem contar os seus problemas. Então, começou por me contar, que era
vítima de uma das doenças mais preocupantes deste mundo, a leucemia. Uma
história que me emocionou bastante!!
Tinha um filho, pequenino, com o qual tentava passar
mais tempo possível, uma mãe que era o seu suporte emocional, e um irmão um
tanto ou quanto desequilibrado.
Em pouco tempo, soube a história da sua vida, a qual
as suas fotografias e amigos de facebook
confirmavam. Não havia margem para dúvidas que seria uma fase difícil da vida
daquela pessoa. Tratamentos, viagens ao estrangeiro, dias sem levantar da cama,
outros tantos dias inconsciente (nos quais os amigos estavam sempre presentes,
e me tentavam avisar, por msg no facebook,
através da sua conta pessoal).
Ora eu, senti-me numa posição também delicada, e tive
mesmo pena daquela situação. Pensava que as pessoas não mereciam tamanho
sofrimento! O tempo foi passando, e tornei-me um apoio emocional, um suporte de
força para ele… com o qual eu não me importava muito, e sempre pensei que fazia
o correto: tentar ajudar aquela pessoa a atravessar um momento mau da sua vida.
No entanto, a simpatia dele foi se alterando e
começaram a surgir exigências! Apercebi-me que, talvez a doença lhe pudesse
estar a consumir o perfeito juízo! As conversas que tentava ter de apoio para
com ele, já não funcionavam, e havia jogo emocional da parte dele, para tentar
controlar toda a minha vida!!
Amigos meus que deixaram de ser amigos, por causa de
msgs que recebiam dele com histórias inventadas que faziam com que essas
pessoas se afastassem de mim. Ciúmes? Sim, teria ciúmes dos meus amigos que
conhecia virtualmente… os quais fez de tudo para afastar de mim! Com alguns,
resultou, com outros não foi bem assim! Ainda assim, perdi pessoas
importantes….
Importa salientar que, devido à doença dele, nunca houve
possibilidade de nos vermos pessoalmente, havia um suporte emocional à
distância, que eu tentava dar àquela pessoa, que eu e a minha mãe tínhamos a
sensação de ter visto naquela tal festa…
Bem, a história começou a tornar-se demasiado
complexa, e fui persuadida a dizer coisas que nem por isso queria dizer, ou
fazer, porque caso contrário “não me importava com o bem-estar dele, nem em
fazê-lo sentir-se melhor, e nem sequer queria saber se ele estava a morrer” (palavras
dele). E, sempre que tentava um afastamento, lá vinham os amigos virtualmente
dizer-me que ele não estava bem, e que eu tinha que continuar a prestar-lhe o
mesmo apoio, sob risco de ele falecer em breve como se esperava, e o peso de
consciência sobrasse para mim. E pronto, lá tentava eu que o rapaz estivesse
bem, e que pelo menos o fim de vida dele, não fosse um peso pra mim. Eu só
queria ficar com a consciência tranquila, e transmitir-lhe coisas minimamente
agradáveis até ao fim da sua vida.
Ao fim de algum tempo (meses depois), o seu estado de
saúde complicou-se demasiado, tendo inclusive ido para Alemanha para
tratamento, onde a sua mãe terá falecido de acidente de viação! Mais um
desastre! Mais uma conversa, um apoio, uma tentativa de transmitir apoio e
força… mas não foi fácil. Ele só tinha a mãe que o apoiava e que tomava conta
do filho dele…
Alguns dias depois do suposto funeral da mãe, ele
terá sido submetido a mais uma cirurgia, a fim de tentar recuperar as funções
hepáticas, mas sem muito sucesso. Já não teve saída hospitalar, e o
internamento foi se mantendo por muito tempo…
Resolvi visitá-lo, então, para o conhecer, e assim me
despedir dele! Avisei-o que ía no sábado seguinte e, segundo ele disse, os
médicos deram autorização que recebesse a minha visita no hospital.
Pedi a companhia de uma amiga que sempre soube da
história desde início, e lá fomos para Lisboa, para a visita…..
Não percas o próximo episódio (amanhã), porque nós também não!
Joana Chambel
26 anos
Ponte de Sor
Educadora Social
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